segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Eu me faço de instantes, mas nao entendo maneira de ser o instante, simplesmente, sem ser também os instantes que costumava captar em minha essencia
Costumava tornar-se acostumar, e o que é costume, não é fácil desprender. E como o costume errante das águas de não saber se contentar com um só espaço, é querer rolar, saltar, deitar-se toda espalhada por minério de montanha, areia de praia, e completar-se em fugidios instantes
para depois voltar ao espaço uno das águas.
O meu costume, porém, foi quase o inverso. Me fiz pequeno em espaço, às vezes me fazia maior do que precisava, era um guarda-roupas cheio que nunca me vestia.
O excesso, o conforto, a comida além do que sacia, o banho quente, que quando toca, suave mas agressivo como sol em fios de cabelo, arrepia a nuca e parece que nos faz plenitude, paz. Mas essa paz é estase, é transporte pelo contraste, é reconforto além de todos que cultivamos.
E como em gotas quentes, que em contato com a pele com sede fria, torna-se estática, pois pertence então a nós, como essas gotas é que levava meus dias, estáticos, pertencentes a mim apenas.
Ao meu conforto diário, edredon em dias frios, ventilador secando as gotas quentes nas costas de verão.
E então me vi fechado em mim, parado na mesmisse de dias estipulados, sem tempo de ver estrelas cadentes, mas com a recompensa de um tremendo bem estar maternal, pois isso o mundo sabe bem dar.
Mas como transbordar pura essência? Puro sentimento autêntico? puro contato com as estranhas profundezas da alma? Como captar o mundo, longe de qualquer aparência?
Pois se não sei caminho, sei o que é falsidade. Sei o que é shopping e maquiagem e a contundente cultura do belo, sei o que é casa quente, comida comprada, carro. E sei que isso não é o mundo, é a aparência que criamos dele.
O mundo é frio, as vezes viscoso, gruda na pele e te impregna de pura essência verdadeira. E como é, e não como achamos que deve ser. O mundo não é casa com lareira, e chão frio antes do dia nascerNão digo que conheço o mundo, comecei a visitá-lo agora, acolhido, reservado, receoso. E quando me dei conta, sou todo aprência de novo. Sou lábios unidos, café com leite, barulho de TV, quarto quente de motel com companhia, pêlos eriçados e suspiros terminados, e volto um pouco ao que era, embora a tentativa da libertação já não me modifique um tanto?
Mas quero mais que isso, quero ser como gota d´água, seguir caminhos, pelo fluxo e não pela razão, encontrar o que deve ser encontrado, sentir a vida me tomando aos poucos, quebrando meus próprios tabus.
Mas sento na frente de um posto, entre caronas que as vezes me frustram, me levam a tentar dormir no frio calado da noite, seco, áspero. Como tentar entender que o mundo é isso? Desgarrar-me do colchão quente e cair na estrada fria e solitária, por vezes sem fala, sorrisos, abraços, conversas ?
Faz tempo que não converso comigo com sinceridade, pois se não me entendo chego a conclusões. Estou transitando aos poucos. Quero parar de tentar entender, apenas sentir tudo em seu máximo esplendor.
O problema é que não controlo essa travessia, as vezes sou angústia, contestação, e lá estou de novo tentando entender. Mas a vida não se entende. A vida simplesmente não se entende, e se se sente, não se entende o que se sente. A vida é essência fluida que corre das mãos, e então é preciso ser esse fluido, não entendê-lo ou classifica-lo, ou tentar após o dia nascer colhê-lo, bebê-lo, fingir que se é tendo.

domingo, 27 de novembro de 2011

Estavam eles, com seus jeitos diferentemente calmos de lidar com aquela nova consciência que tomava a todos. Os corpos escuros escorriam as gotas ligeiramente brilhantes que corriam por seus rostos já encharcados.

            E agora corriam, sem saber porque, mas corriam. Corriam para lugar tal que não sabiam ao certo, mas era uma felicidade muito grande correr !! Era apenas o vento contra os olhos, que iam fechando-se e tentando outra vez se abrir, como que para encontrar a luz do sol, que já ia então caindo calmamente, como com preguiça de deixar toda aquela luz se acabar. A imagem túrgida de gotas de chuva através da luz definia-se como um todo de chão, ao caírem, e empoçavam a areia salgada da praia.

            A areia já cansada de água resolvia apoçar-se, com calma, aderindo toda aquela água viril.  As ondas tentavam alcançar toda aquela água, quando então percebiam que era tudo longe de mais, e retrocediam  dando lugar a uma onda mais corajosa, que subia por cima da primeira. E nesse indo e vindo, caem corpos eufóricos, corpos ávidos por um pouco desta tentativa de ida e volta. As ondas mostram seu peso e força, e a força dos meninos que La estavam jogados míngua, naquela gostosa sensação de deixar estar.

            O sol já tingia tons de laranja, mostrando algumas ondas de sua luz no meio de toda aquela neblina e chuva calma e translúcida que pairava sobre as cabeças imaginativas das crianças, que brincavam e dançavam maravilhados com aquele lindo lugar. 

expressar-se

A dificuldade de expressar-se vem, para mim, ao encontro da possibilidade de uma retrospecção em relação ao que sinto e ao que venho a passar.

Sendo que o que sinto é derivado de uma intensa rede de conexões, permeável entre tantas formas de existência e como não dizer experiência, que na realidade acaba excedendo aquelas na medida em que apresenta-se de forma real e compacta e acaba também nos mostrando um tanto difusa no que se diz memória. Ora, se eu penso, e penso a partir de algo que me veio outrora, provocando-me uma experiência a partir de uma realidade que se apresenta sempre relativa.(digo relativa em mais de um sentido, que é a priori aparente e linear, que seria o de a relatividade da vivência ser individual, divergente então de um ser para outro, mas também é relativa a medida que uma mesma forma de existência da realidade pode acabar se mostrando ao menos diferente, pode uma mesma manifestação pode representar diferentes sensações, ao mesmo tempo em que então a nossa percepção relativa de realidade modifica-se ao longo das experiências acumuladas  por divergentes vivências, pois nosso ser é constantemente submetido a mudanças, algumas vezes discretas, outras  agressivas, que moldam aos poucos o que percebemos ao nosso redor.)

O que sentimos então seria uma mistura do que vivemos, com o que anteriormente vivenciamos, (de maneiras distintas) à medida que o que reconhecemos como realidade vai  sendo aos poucos definida. Obtemos então uma pré-realidade que comunica-se diretamente com a realidade que será construída por  uma percepção do real nascente agora. Ou seja, já temos uma pré-disposição à uma reação emocional e sendo assim consecutiva no sentido em que desencadeia uma ação que também já foi vivenciada. Essa nova percepção conserva-se então em nossa  noção do que é, e também do que foi, determinada reação, definindo agora uma nova pré-realidade, que posteriormente refletirá em uma próxima percepção do real que por ventura tome como referência a semelhança com esta pré-realidade estabelecida. (mas mesmo assim essa modifcação não é tampouco linear).

Diferentemente temos então sensações inusitadas e percepções primárias de sensações e emoções e pensamentos nunca antes sentidos, mas que mesmo assim comunicam-se com outras sensações vividas outrora, no sentido em que nossa resposta a qualquer coisa relaciona-se diretamente com o que tomamos como interpretação da realidade(como já dito individualizada quanto indivíduo e como singular quanto ao momento, que sempre é específico).

Aos poucos então o que sentimos de novo e o que já possui uma pré-interpretação um pouco mais concreta, representa o que temos como base para perceber o mundo e gravá-lo dentro de nós, enchendo-nos de imagens que permeiam entre nosso pensamento, nosso sonho, nossa percepção do mundo, nossos sentimentos, ações, emoções e tudo que diz respeito ao nosso ser assim como é, único.

Essas imagens que temos do mundo e de nós mesmos vão aos poucos desenvolvendo-se e acumulando outras, algumas vezes desconhecidas, outras já vivenciadas(mas nunca iguais, apenas semelhantes, a medida que o seu parecer imagético nunca é o mesmo) outras mesclam-se e moldam-se a partir de uma soma de mais de uma imagem que se comunicam, outras vezes ainda imagem que se criam  sei lá porque.

E, sendo assim, o homem precisou, por algum motivo, por mais mesquinho que possa ser, expressar essa noção de realidade e percepção, que também não se mostra como um fenômenos homogêneo e linear, uma vez que o que resulta de nossa expressão nunca é idêntico ao que se idealiza como imagem, muito menos no que se mostra percepção da realidade. Ao pensar em algo para desenhar idealizo uma sensação-imagem-ação que se define como meu objetivo. Ou seja, uma imagem torna-se molde de minha expressão, (seja ela imagem artística  quanto ao visual, quanto a transparência dos pensamentos por meio da escrita, ou também uma experiência auditiva, ou todas juntas, ou mais tantas outras) mas ela nunca é perfeitamente transcrita, e muito menos imutável, a medida em que sua primeira idealização do que se quer expressar não é, de maneira alguma, imutável.  Concomitantemente, a expressão é derivada de uma intenção, seja ela qual for, e essa intenção modifica uma mesma imagem. Todos sabemos o que é um cavalo, e posso pensar em expressá-lo. Ao pensar em Expressá-lo posso usar da mimética e imitá-lo, posso desenhá-lo e assim idealizo uma forma do que tomo como um cavalo, que nunca é previamente definida, quando penso em cavalo hoje, pode ser um cavalo divergente do cavalo imaginado amanhã. Sendo assim, só de pensar em uma possibilidade de expressão  já me deparo com uma peculiaridade absurda, no sentido de que o que desejo expressar é único para mim e único também por ser meu e não de outra pessoa, o que representa uma tremenda carga de definição do que é a imagem ou o pensamento que quero expressar. Também me deparo com o fato de que ao transcrever ou desenhar ou pintar ou imitar o que desejo, minha primeira intenção de fazê-lo não é, absolutamente idêntica a minha primeira idealização do que expresso, e vai ficando cada vez menos linear a medida em que me expresso, difundindo-se totalmente da minha primeira idealização.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Algumas vezes meus sentidos, sentinelas afoitas,
Jogam-se no nada, adormecem,
E sinto despregar o que é matéria, corpo tenso, dolorido.
Pensamentos antagônicos, arte de refletir-se,
Sacudo-me, esvaio, transcrevo-me em diagnósticos inaplicáveis,
Algumas vezes sou corpo, noutras durmo.
Tenro e cru, despeço-me, devoro meus vários lados,
Sou putrefação, em algum sentido oposto a tudo isso já dito.
Vou remexendo dolorosas feridas refeitas,
Rostos que não via há tempos, por espelhos entre-partidos, entreabertos, entretecidos, entristecidos, estremecidos.
Entro em um universo múltiplo. Dou de cara comigo.
Brigo, esperneio, volto ao mesmo ponto, no início do túnel, levemente dourado,
Risada irônica, ecoo dentro de mim,
Salto por egoísmos caricatos, figuras charlatânicas, fome de fogo.
Volto a vibrar com luz.
Salto, desapareço dentro de mim, retomo os sentidos.
Olho cortinas pouco vermelhas, de sangue amarelado pelo sol,
Escuto batidas de coração aflito, e rostos a me olharem.
Enfim sós, enfim muitos, enfim troncos vibrantes, em fim.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Tem vezes em que a gente entra muito fundo nas coisas. As vezes eu entro na profundeza de uma madrugada, um pouco fria, com um tanto de orvalho espalhado entre fractais lunares. Espalho-me um pouco pela imensidão de momentos um pouco frios, mas intensos, como que um dia que acaba com chuva.
            Algumas horas sinto meu corpo inteiro um pouco dolorido, um pouco cheio, cansado do mundo inteiro nas costas, pesando a postura que deveria ir leve buscar o ar e o pensamento. Caio os ombros, tento achar conforto. Nem sempre existe conforto, e penso que não é o que quero agora. Como chuva em final de dia, quero me ater ao desconforto, quero embrenhar-me no que não conheço ainda, um pouco para saber como é estar completo. O que  não pressupõe que o completo esteja nos outros, está nos outros, mas dentro de nós nos outros. A ligação que sinto tênue deveria ser um estado de não corpo entre outro. Completo, completo enquanto não cartesiano. Não são fragmentos que se unem em ordenação lógica, são todos que se ligam em pequenos fragmentos.  As vezes entendo o todo, as vezes não, mas nunca consegui entender o que são os fragmentos. Então me solto muito as vezes, com os cabelos deitando renitentes no meu rosto, tocando de leve Constancia. Um balanço, e aos poucos sou todo o movimento, aos poucos sou todo o vento, e me deixo levar. Torno-me  um pouco de tudo, solto e dispersos em ondas que toco e não controlo, que esbarro mas não entro, e quando entro vou tão fundo que quero sair. Acho que sinto pouco tempo. Acho que talvez o tempo é que tenha se desfeito.

sábado, 29 de outubro de 2011

Apagam-se as marcas dos pelos saltados
Dos traços arranhados que desfalecem a dor
Salga um pouco os olhos, mas gotas de mar
Entram, calmas,
Pelos lábios abertos, engolem jarros de
Rosas decepadas por amor.

Acabam os meios e os termos,
Descansam os corpos exaltados,
Pecam por falta de senso,
Por beira de lago denso em que
Desdobram braços
Cruzados.

Deslizam... em pedras de cachoeira
Caem no mesmo lugar, mas um tanto profundo a mais,
Um canto distante, um uivo sem face, a alma cansada de sempre
Cair, voltar, traçar-se em entretecidos cabelos,
Que desatam em nós.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Acordo em banho de sol,
Me refaço em luz, pequenas nuvens cor de carmim e dourado
Corpo disperso, calmo, em mãos quentes
Me desfaço um pouco pelo universo, caio sem encanto
Desfaleço-me na aparência.

Emana um pouco do contorno
do que sai e cai em tudo
hora luz hora brisa hora cálido e compassado
como flor que aparece em fim de tarde
calma, branca, roxa, lilás
serena se fecha ao fim da luz.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A porta

Tento abrir a porta
mas cala fechada
guarda o prisma
luz transeunte irrefutável.
Bato mas não abre
guarda a luz sôfrega em alçapões
insonoros e febris.
Guardo um pouco da febre do mundo
dentro do meu peito,
que queima sem calor.
Tento abrir a porta,
mas não tenho boca pra chamar.
Dissolução de viver
em imagem de
prédios tortuosos e
saudades presas em asfalto
reluzente em calor
adormecido pelo relógio sem tempo
nosso passo despercebido
em contato sinistro disconexo
sem prosa
dedos e ventos
sem tempo de dentro
contando calado
som de relva.
Repudio as palavras,
que destoam o sentido
do que guardo da tua dança.
Apagam desbotada lembrança
de corpo desnudo em aparência
carne em transe
de concerto itinerante
sina liberta de corpo aberto.

Repudio as palavras,
já nasceram antes de senti-las
e mordem teu sorriso, memória.
Luz e som movimento resplandescente
de sexo de espírito criança,
passos apagados  por água difusa
choro que embaça seus cabelos,
colo que falta braços e pernas.

Repudio as palavras, elas não são.
Apenas existem.
me sinto calado
pelo tempo desmedido
sentido, fosse pelo avesso
consentido, era agora flor sem
botão, bexiga e arranha-céu
assalto de passo contido.
Ando com passos largos
olhos frouxos ainda sem tempo
como ondas de distinto argumento
que alojam casulos refeitos.
Há vezes em que vejo
tantas cores no vento, borboletas
saltando, que me perco
no voar.

Solto, salto,
solavanco e repouso
quase gasto
do voar.

Tem dias em que volto
calvo, solto e desmaio
no meio da areia,
e passo meio metro incerto distante
do chão.

E tem vezes  que choro
sem olhos e caio
parado sem sina
nem nada, tentando
voar.
Minha face está repleta de gotas insalubres do orvalho distante da noite. Gosto saudoso de luz de dia claro, sonho perdido na lua.
Queria abraçar o mundo, senti-lo um pouco mais perto e ameno, atravessá-lo numa fresta até senti-lo abraçar-me, calmo, em troca umidamente reforjada. Mas teimo em repudiá-lo. Fecho os olhos, coloco-os esquecidos fora de mim.
Às vezes é a noite preguiçosa que tece verdades escondidas outrora pela luz, e me mostra calma, renitente e relutante a minha alma, cheia de verdes espinhos que machucam minhas certezas e sucumbem o grito e as lágrimas que calam pelo costume de secarem. Tenho medo das lágrimas, prefiro mastigá-las com pressa até que sinta o gosto amargo do que era amor.
E quando é noite, e a lua uiva, sinto a dor de buscar tua perda sincera, tua falta  que fiz, afastando de ti minha presença corroída, minha busca solitária.
Tenho mais medo de pessoas do que de lágrimas, mais medo de olhos que de rios, por isso afasto-as repentinamente. Assim consigo calar lágrimas e em silêncio guardá-las, levando-as nas mãos até meu peito escuro que cavei. Coloco-as pacientes dentro dos feixes do peito, para que sequem ao sol  quando amanhecer.
Despem-me as palavras
Retiram as folhas que caem calmas
Sobre meu peito
Em farfalhar rarefeito
Calmo, sem pesar.

Despido solto-me ao vento
Como raiz turbulenta
Que se eleva,
Sai da terra dura e seca.

Calado tento acalento
Lento me viro,
Tento respirar.
Mas me faltam olhos, cores, brasa,
Falta-me dedos, calma, suspiro,
Falta-me um pouco de pulso,
Um pouco de impulso
Pra caminhar.

Não falo, e minto,
Finjo folhas e flores,
Saúdo olhares turvos,
Passo lento, lapides rústicas,
E me deixo cair distante de mim, sem palavras ou raízes,
Em becos:
Sêmen em sacos vazios.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Já vou

Já vou-me embora
vou achar o que esconde em
dias de festa e
sonhos cantados

Desconversas irrefutáveis
seus olhos que esqueci
em algum canto de pássaro

Em dias de comida boa
festa de cantiga, soa
tanto um passo a mais daqui.

Sei que volto,
algum dia tonto
de tanto querer andar
sem pés em lugar, passo que refaz
a dor que se esconde no canto
feito santo sem orar.

domingo, 25 de setembro de 2011

Sinto vida

Sinto vida
Meu peito já sabe quando se alimentar
Do suave ar das montanhas.

Deixei a aflição, e sigo
O fluxo das fohas
Que sabem bem se desprender dos galhos
Que as guardavam, tortuosas
Para si.

Sinto repentinos vazios
De tudo que havia me enchido
E não alimenta agora.

Teço momentos, e momentos não são exatos
São passos errantes, Saltos difusos
Sons de timbre transcendente
Que agora acertam as pedras distantes
Com leve beleza destemida.

Sinto o mundo dos homens
Mas quero o que não lhe pertence.
O vazio, o que não é motor e cálculo
O que é calculo sem razão
O que é arrepio sem intenção
O que é. Sem querer ser.

Água viva - Clarisse lispector

"sinto agora mesmo o coração batendo desordenadamente dentro do peito. É a reinvindicação porque nas últimas horas andei pensando somente a tona de mim. Então o fundo da existência se manifesta para banhar e apagar os traços do pensamento. O mar apaga os traços das ondas na areia. Oh Deus, como estou sendo feliz. O que estraga a felicidade é o medo.
Fico com medo. Mas o coração bate. O amor inexplicável faz o coração bater mais depressa. A garantia unica é que eu nasci. Tu és uma forma de ser eu, e eu uma forma de te ser: eis os limites de minha possibilidade.

Estou numa delícia de se morrer dela. Doce quebranto ao te falar. Mas há a espera. A espera é sentir-me voraz em relação ao futuro. Um dia disseste que me amavas. Finjo acreditar e vivo, de ontem para hoje, em amor alegre. MAS LEMBRAR-SE COM SAUDADE É COMO SE DESPEDIR DE NOVO"
Sons entre sons
entrecortados de vontades
aflitas cortantes que brecam
o movimento fluido dos sons
de cores pausadas em ritmos
vulgares de gosto de fome
em dias de chuva
o gosto da lagrima, som
de folha quebrando é como
são os olhos, distantes do
avesso do sentido de tudo
junto, com tudo junto,
quando se via separado
de tudo um pouco.
Cintilância de olhos
confusamente sinceros
de saber o não entender
e sentir
dedos entrelaçados
entre justapostas pernas
e lábios tocando,
calados, sorrisos
espontâneos.
Preciso é sentir
calmo envolvimento
palavras traçadas,
pés no chão de grama
amanhecendo.
Busca de não querer tocar
e profundamente despercebido
som da risada tua,
fios de cabelos
na ponta dos dedos.
Suspiro, cautela,
devaneios imprecisos, 
de não saber como é
passo ao lado de outro.