sábado, 29 de outubro de 2011

Apagam-se as marcas dos pelos saltados
Dos traços arranhados que desfalecem a dor
Salga um pouco os olhos, mas gotas de mar
Entram, calmas,
Pelos lábios abertos, engolem jarros de
Rosas decepadas por amor.

Acabam os meios e os termos,
Descansam os corpos exaltados,
Pecam por falta de senso,
Por beira de lago denso em que
Desdobram braços
Cruzados.

Deslizam... em pedras de cachoeira
Caem no mesmo lugar, mas um tanto profundo a mais,
Um canto distante, um uivo sem face, a alma cansada de sempre
Cair, voltar, traçar-se em entretecidos cabelos,
Que desatam em nós.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Acordo em banho de sol,
Me refaço em luz, pequenas nuvens cor de carmim e dourado
Corpo disperso, calmo, em mãos quentes
Me desfaço um pouco pelo universo, caio sem encanto
Desfaleço-me na aparência.

Emana um pouco do contorno
do que sai e cai em tudo
hora luz hora brisa hora cálido e compassado
como flor que aparece em fim de tarde
calma, branca, roxa, lilás
serena se fecha ao fim da luz.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A porta

Tento abrir a porta
mas cala fechada
guarda o prisma
luz transeunte irrefutável.
Bato mas não abre
guarda a luz sôfrega em alçapões
insonoros e febris.
Guardo um pouco da febre do mundo
dentro do meu peito,
que queima sem calor.
Tento abrir a porta,
mas não tenho boca pra chamar.
Dissolução de viver
em imagem de
prédios tortuosos e
saudades presas em asfalto
reluzente em calor
adormecido pelo relógio sem tempo
nosso passo despercebido
em contato sinistro disconexo
sem prosa
dedos e ventos
sem tempo de dentro
contando calado
som de relva.
Repudio as palavras,
que destoam o sentido
do que guardo da tua dança.
Apagam desbotada lembrança
de corpo desnudo em aparência
carne em transe
de concerto itinerante
sina liberta de corpo aberto.

Repudio as palavras,
já nasceram antes de senti-las
e mordem teu sorriso, memória.
Luz e som movimento resplandescente
de sexo de espírito criança,
passos apagados  por água difusa
choro que embaça seus cabelos,
colo que falta braços e pernas.

Repudio as palavras, elas não são.
Apenas existem.
me sinto calado
pelo tempo desmedido
sentido, fosse pelo avesso
consentido, era agora flor sem
botão, bexiga e arranha-céu
assalto de passo contido.
Ando com passos largos
olhos frouxos ainda sem tempo
como ondas de distinto argumento
que alojam casulos refeitos.
Há vezes em que vejo
tantas cores no vento, borboletas
saltando, que me perco
no voar.

Solto, salto,
solavanco e repouso
quase gasto
do voar.

Tem dias em que volto
calvo, solto e desmaio
no meio da areia,
e passo meio metro incerto distante
do chão.

E tem vezes  que choro
sem olhos e caio
parado sem sina
nem nada, tentando
voar.
Minha face está repleta de gotas insalubres do orvalho distante da noite. Gosto saudoso de luz de dia claro, sonho perdido na lua.
Queria abraçar o mundo, senti-lo um pouco mais perto e ameno, atravessá-lo numa fresta até senti-lo abraçar-me, calmo, em troca umidamente reforjada. Mas teimo em repudiá-lo. Fecho os olhos, coloco-os esquecidos fora de mim.
Às vezes é a noite preguiçosa que tece verdades escondidas outrora pela luz, e me mostra calma, renitente e relutante a minha alma, cheia de verdes espinhos que machucam minhas certezas e sucumbem o grito e as lágrimas que calam pelo costume de secarem. Tenho medo das lágrimas, prefiro mastigá-las com pressa até que sinta o gosto amargo do que era amor.
E quando é noite, e a lua uiva, sinto a dor de buscar tua perda sincera, tua falta  que fiz, afastando de ti minha presença corroída, minha busca solitária.
Tenho mais medo de pessoas do que de lágrimas, mais medo de olhos que de rios, por isso afasto-as repentinamente. Assim consigo calar lágrimas e em silêncio guardá-las, levando-as nas mãos até meu peito escuro que cavei. Coloco-as pacientes dentro dos feixes do peito, para que sequem ao sol  quando amanhecer.
Despem-me as palavras
Retiram as folhas que caem calmas
Sobre meu peito
Em farfalhar rarefeito
Calmo, sem pesar.

Despido solto-me ao vento
Como raiz turbulenta
Que se eleva,
Sai da terra dura e seca.

Calado tento acalento
Lento me viro,
Tento respirar.
Mas me faltam olhos, cores, brasa,
Falta-me dedos, calma, suspiro,
Falta-me um pouco de pulso,
Um pouco de impulso
Pra caminhar.

Não falo, e minto,
Finjo folhas e flores,
Saúdo olhares turvos,
Passo lento, lapides rústicas,
E me deixo cair distante de mim, sem palavras ou raízes,
Em becos:
Sêmen em sacos vazios.