domingo, 27 de novembro de 2011

expressar-se

A dificuldade de expressar-se vem, para mim, ao encontro da possibilidade de uma retrospecção em relação ao que sinto e ao que venho a passar.

Sendo que o que sinto é derivado de uma intensa rede de conexões, permeável entre tantas formas de existência e como não dizer experiência, que na realidade acaba excedendo aquelas na medida em que apresenta-se de forma real e compacta e acaba também nos mostrando um tanto difusa no que se diz memória. Ora, se eu penso, e penso a partir de algo que me veio outrora, provocando-me uma experiência a partir de uma realidade que se apresenta sempre relativa.(digo relativa em mais de um sentido, que é a priori aparente e linear, que seria o de a relatividade da vivência ser individual, divergente então de um ser para outro, mas também é relativa a medida que uma mesma forma de existência da realidade pode acabar se mostrando ao menos diferente, pode uma mesma manifestação pode representar diferentes sensações, ao mesmo tempo em que então a nossa percepção relativa de realidade modifica-se ao longo das experiências acumuladas  por divergentes vivências, pois nosso ser é constantemente submetido a mudanças, algumas vezes discretas, outras  agressivas, que moldam aos poucos o que percebemos ao nosso redor.)

O que sentimos então seria uma mistura do que vivemos, com o que anteriormente vivenciamos, (de maneiras distintas) à medida que o que reconhecemos como realidade vai  sendo aos poucos definida. Obtemos então uma pré-realidade que comunica-se diretamente com a realidade que será construída por  uma percepção do real nascente agora. Ou seja, já temos uma pré-disposição à uma reação emocional e sendo assim consecutiva no sentido em que desencadeia uma ação que também já foi vivenciada. Essa nova percepção conserva-se então em nossa  noção do que é, e também do que foi, determinada reação, definindo agora uma nova pré-realidade, que posteriormente refletirá em uma próxima percepção do real que por ventura tome como referência a semelhança com esta pré-realidade estabelecida. (mas mesmo assim essa modifcação não é tampouco linear).

Diferentemente temos então sensações inusitadas e percepções primárias de sensações e emoções e pensamentos nunca antes sentidos, mas que mesmo assim comunicam-se com outras sensações vividas outrora, no sentido em que nossa resposta a qualquer coisa relaciona-se diretamente com o que tomamos como interpretação da realidade(como já dito individualizada quanto indivíduo e como singular quanto ao momento, que sempre é específico).

Aos poucos então o que sentimos de novo e o que já possui uma pré-interpretação um pouco mais concreta, representa o que temos como base para perceber o mundo e gravá-lo dentro de nós, enchendo-nos de imagens que permeiam entre nosso pensamento, nosso sonho, nossa percepção do mundo, nossos sentimentos, ações, emoções e tudo que diz respeito ao nosso ser assim como é, único.

Essas imagens que temos do mundo e de nós mesmos vão aos poucos desenvolvendo-se e acumulando outras, algumas vezes desconhecidas, outras já vivenciadas(mas nunca iguais, apenas semelhantes, a medida que o seu parecer imagético nunca é o mesmo) outras mesclam-se e moldam-se a partir de uma soma de mais de uma imagem que se comunicam, outras vezes ainda imagem que se criam  sei lá porque.

E, sendo assim, o homem precisou, por algum motivo, por mais mesquinho que possa ser, expressar essa noção de realidade e percepção, que também não se mostra como um fenômenos homogêneo e linear, uma vez que o que resulta de nossa expressão nunca é idêntico ao que se idealiza como imagem, muito menos no que se mostra percepção da realidade. Ao pensar em algo para desenhar idealizo uma sensação-imagem-ação que se define como meu objetivo. Ou seja, uma imagem torna-se molde de minha expressão, (seja ela imagem artística  quanto ao visual, quanto a transparência dos pensamentos por meio da escrita, ou também uma experiência auditiva, ou todas juntas, ou mais tantas outras) mas ela nunca é perfeitamente transcrita, e muito menos imutável, a medida em que sua primeira idealização do que se quer expressar não é, de maneira alguma, imutável.  Concomitantemente, a expressão é derivada de uma intenção, seja ela qual for, e essa intenção modifica uma mesma imagem. Todos sabemos o que é um cavalo, e posso pensar em expressá-lo. Ao pensar em Expressá-lo posso usar da mimética e imitá-lo, posso desenhá-lo e assim idealizo uma forma do que tomo como um cavalo, que nunca é previamente definida, quando penso em cavalo hoje, pode ser um cavalo divergente do cavalo imaginado amanhã. Sendo assim, só de pensar em uma possibilidade de expressão  já me deparo com uma peculiaridade absurda, no sentido de que o que desejo expressar é único para mim e único também por ser meu e não de outra pessoa, o que representa uma tremenda carga de definição do que é a imagem ou o pensamento que quero expressar. Também me deparo com o fato de que ao transcrever ou desenhar ou pintar ou imitar o que desejo, minha primeira intenção de fazê-lo não é, absolutamente idêntica a minha primeira idealização do que expresso, e vai ficando cada vez menos linear a medida em que me expresso, difundindo-se totalmente da minha primeira idealização.

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